Pular para o conteúdo principal

Os perigos de uma Reforma Tributária sem consenso

         Reunidos em agosto de 2021, diretores da ASSEFIN - Associação das Secretarias Municipais de Finanças do Estado de São Paulo, que congrega e representa, através dos titulares dos departamentos fazendários, os municípios paulistas, já externavam suas preocupações com os rumos da Reforma Tributária. 

         Para eles, primeiro esboçou-se uma unificação de tributos, que tiraria do controle dos municípios brasileiros sua principal fonte de recurso próprio, o Imposto Sobre Serviço, esteve em pauta uma reforma do Imposto de Renda, que, aparentemente teria prioridade, mas acabou não tendo.

         Também foi enviado pelo Governo Federal o Projeto de Lei 3887/20, criando a Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS), com alíquota de 12%, em substituição ao Programa de Integração Social (PIS) e à Contribuição para Financiamento da Seguridade Social (COFINS), que à época não progrediu.

        Agora, de forma solo, o Senado quer criar o IVA - dual, juntando o ISS - Imposto sobre Serviços, que é municipal, com o ICMS, de circulação de mercadorias, que é estadual, para criar um IVA subnacional, tentando acelerar o CBS, como descrito acima. 

        Tributaristas apontam dois pontos que deveriam ser muito mais estudados e discutidos, a perda do controle do imposto mais importante dos municípios, o ISS, sem garantias reais sobre perdas, e a oneração, pelo CBS, para o setor que mais cresce no país, o de serviço.     

         Uma das preocupações da ASSEFIN é que o Executivo e o Legislativo Federal não apresentou um plano uniforme para a prolatada Reforma Tributária, dando impressão de que, às vezes, a Câmara dos Deputados, o Senado Federal e o Ministério da Economia estão com metas completamente diferentes, "o que causa transtornos e enorme insegurança para as administrações municipais, onde realmente é movimentada a economia, real fato gerador para as cobranças dos tributos!", argumentam os secretários municipais de finanças.

Reunião com tributarista


        Para a entidade não há dúvida, e é voz corrente em todas as representações da área no Brasil, que a tributação brasileira precisa ser simplificada e que os custos precisam ser reduzidos, para melhorar o ambiente de negócios no Brasil, tanto que apoia o movimento Simplifica Já! 

        Para tanto fará, em 31.3.2022 (quinta-feira), uma reunião com o tributarista Alberto Macedo, que é doutor em Direito Econômico, Financeiro e Tributário pela USP, Professor em pós-graduação do Insper e da FIPECAFI, tendo sido subsecretário da Receita Municipal da cidade de São Paulo.

        O professor Alberto entende que, nos dois casos, no IVA e no CBS, haverá aumento da carga tributária, no caso do IVA, "porque os estados e municípios de origem perdedores irão aos respectivos parlamentos para aumentar suas alíquotas, a fim manterem seus orçamentos; enquanto os estados e municípios de destino ganhadores não abaixarão suas alíquotas."         

        Já na CBS, para ele, com uma alíquota de 12%, "traria brutal aumento de carga para os serviços, que hoje pagam PIS/Cofins a uma alíquota de 3,65% no regime cumulativo e simplificado, e de 9,25% no não cumulativo, não tendo praticamente nada a se compensar, ao contrário dos setores com cadeia produtiva longa", explica.

Leia na íntegra a matéria da Folha de S. Paulo, no artigo que trás, além das considerações de Alberto, também as opiniões de João Diniz, presidente da Central Brasileira do Setor de Serviços - Cebrasse. 

        Os secretários municipais mantém a esperança que haja "uma modernização em todo sistema tributário para que, com o incentivo ao desenvolvimento econômico, pudéssemos garantir a manutenção e uma sensível melhoria nos serviços públicos prestados à população, que, cremos, é o maior objetivo", explicam os diretores, argumentando que, aparentemente, não está sendo este o caminho.

PEC 110/2019

         A associação vê, agora, com preocupação, a retomada da pauta de votação do Senado Federal, o Projeto de Lei Complementar 110/2019. "Não podemos concordar com uma unificação de tributos, que incorpora o ISS (Imposto sobre Serviços), principal fonte de recursos não repassados dos municípios", diz o presidente Adriano Luiz Leocadio (foto).

Adriano Luiz Leocadio - Presidente Assefin

         Adriano continua: "Também não podemos imaginar que os responsáveis pela Reforma Tributária, que parecem estar dissociados, enfrentem uma unificação de impostos sem uma precisa memória de cálculo que permita proteger a arrecadação dos entes, que realmente cuidam dos serviços disponíveis aos contribuintes, que são os municípios.

        Para o presidente, sem um detalhamento da gestão e partilha desses recursos, que serão gerados pela reforma, e uma demonstração científica dos possíveis impactos sobre a arrecadação das cidades, não há como apoiar um plano que pode distorcer totalmente o pacto federativo.

         "Mas estamos dispostos a ajudar - diz Adriano, primeiro pedimos que os poderes envolvidos comecem a falar uma língua só, depois que sejam convocados os representantes dos municípios, que até já tem uma bandeira definida – há que se simplificar a tributação brasileira", conclui.


Como participar

Debate
Os perigos de uma Reforma Tributária sem consenso.

Com Alberto Macedo

Dia 31-3-2022 16h30

Plataforma Zoom

Inscrição para receber o link da reunião no Zoom:

https://forms.gle/Usv4cxPE6FagYpgm9

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

10.o SGESP - 22/7 - RFB - Colaboração e intercâmbio com os municípios

    No dia 22/7/2021 - o 10.o SGESP mais uma vez contará dirigentes da Receita Federal do Brasil, auditores-fiscais, que sempre abordam temas que envolvem os municípios brasileiros, principalmente em forma de parceria. Adriano Pereira Subirá (Moderador) Auditor Fiscal da Receita Federal Na RFB desde fev/93 Mestrado em Administração Tributária pela UNED Espanha Consultor externo do FMI Chefe da ASCIF/RFB - Relações Institucionais da Receita Federal Tema: Conformidade Cooperativa, e a experiência da Receita Federal com a Conformidade Tributária Flávio Vilela Campos Auditor-Fiscal da Receita Federal do Brasil, atualmente na gerência dos projetos de “Gerenciamento de Riscos de Conformidade – GRC” e de “Conformidade Cooperativa Fiscal – Confia” da Receita Federal do Brasil Tema:   Cadastro Imobiliário Brasileiro (CIB) José Renato Alves Gomes Pós-graduado em redes de computadores pela Universidade Federal do Pará. Auditor-Fiscal da Receita Federal do Brasil desde o ano 2002. Ch...

SIAFIC - Comitê Gestor: Sistema Único é um software!

Aponte ^ a câmera do seu celular no  QR Code  (ou clique na figura) e participe! Como participar do Café da Manhã: 1. Para receber certificado: Inscrição 2. Para assistir: Youtube  - Facebook SIAFIC: Comitê Gestor firma entendimento de Sistema Único: ele é um software !         Desde o ano 2000, com a edição da Lei de Responsabilidade Fiscal (LC 101/2000) existe uma palavra de ordem para os entes da Federação:  transparência  nas informações! O fundamento principal é a " liberação ao pleno conhecimento e acompanhamento da sociedade, em tempo real, de informações pormenorizadas sobre a execução orçamentária e financeira, em meios eletrônicos de acesso público".         Em 2009 aparece um conceito complementar à transparência dos gastos públicos para os entes da Federação, o de que também devem incentivar audiências públicas, o da adoção de um  sistema integrado  e que tenha um  padrão mínimo de qualidade...

A previsão legal de “quebra” da vinculação de fontes em situações de calamidade pública

  A previsão legal de “ quebra ” da vinculação de fontes em situações de calamidade pública Situações de calamidade pública exigem respostas à altura do desafio imposto às administrações públicas, respostas estas que culminam em dispêndio de recursos financeiros, pois verifica-se uma relação direta entre as ações tomadas pelos governos para combater a situação calamitosa e o incremento de gastos necessários ao financiamento das medidas emergenciais. Porém, não podemos esquecer que os recursos públicos no Brasil são caracterizados por significativas amarras quanto à sua aplicação, também conhecidas por vinculações, que determinam que certos ingressos (receitas) só podem ser utilizados para despesas especificas, e que são controlados por meio do mecanismo conhecido como fonte/destinação de recursos. 1. O que são vinculações? Em termos gerais significam destinar previamente, por instrum...